terça-feira, 9 de junho de 2020

Araruna tem Eleição Diferente


O tempo da alegria das crianças chegava
A política iniciava e os carros de som circulavam
Era uma correria danada atrás das fotos que os carros de som deixavam
Era uma difusora que chamava, e as crianças em casa não ficavam.

Correr atrás da difusora era melhor que ficar em casa
Cheio de menino a parte de traz ficava
Era muita alegria, atrás do carro todos corriam
O motorista reclamava, mas os meninos nem ouviam.

Um menino do carro caiu e morreu
De repente, tudo diferente os carros agora grampo continha
E subir nele não podia.

Tudo foi mudando, os carros aumentando
Chegou um tal de Tenório logo gritando
É sangue luzia!!! E o  povo é Raul e Nemias
Agitou a eleição, e o povo era só emoção
Era Nivaldo de um lado do outro Raul 
Foi aí que Surgiu naquele tempo
A expressão converseiro de Raul.

No ginásio o Maranhão uma guerra acontecia
Acabou a luz e a contagem seguia
Sumiu uma urna!!! E ninguém via
Era uma gritaria, uma verdadeira agonia.

Algumas pessoas em casa esperando a contagem terminar
De longe logo se ouvia o negão Tenório a gritar
Logo disseram, foi Raul que conseguiu ganhar
O negão gritando sangue Luzia e por traz da sua fala
Uma ironia, era Dr. Nivaldo que do seu lado vinha
O negão de lado pulou a vitória Nivaldo levou.

Foi uma campanha diferente
Pois ainda resta dúvida em muita gente
Mas uma coisa vamos destacar
Desta campanha até hoje costumamos falar
Aja sangue luzia e converseiro de Raul, pois estes vieram para ficar
É o que costumamos muitas vezes no dia a dia falar.

Araruna/PB, 09 de junho de 2020

Edvaldo dos Santos 


domingo, 29 de março de 2020

A Escolinha de professor Fio “Bom de Bola Bom na Escola”

A Escolinha de professor Fio  “Bom de Bola Bom na Escola” 

O futebol de Araruna tem muita história para contar,
Tivemos grandes nomes os quais vamos nos lembrar.
Tudo começou no campo do pé de jaca,
Onde cada jogador fazia seu gol de placa,
Era próxima a Avenida onde aventura acontecia
Jogava até a última luz do dia.

Com o passar do tempo o campo mudou de lugar,
Veio ser o campo do cuscuz que começaram a jogar
Também era até a última luz que a bola ficava a rolar.

Dentro destas rimas pobres também quero destacar,
A escolinha de professor Fio que veio para inovar
Tinha um tal de Ferrugem que só fazia marmota por lá,
Mas o que os meninos queriam mesmo era jogar ate cansar.

Desfile 07 de Setembro
Fonte: Professor Francisco Belarmino (Prof. Fio)

A escolinha não veio só para as crianças jogar
Trazia com ela um projeto particular.
Nos momentos de bola as crianças ficavam a desopilar
Não queriam com outras coisas ruins se misturar.

Falo da escolinha com orgulho de participar,
Pois foi ali que comecei o meu sonho realizar.
Quem bebesse ou fizesse coisa errada na escolinha não podia ficar,
De longe se ouvia um homem de perna torta gritar
Era poça de gala pra aqui, poça de gala pra lá
E ai de quem fosse questionar.

Professor Fio atuando no Guarabira FC
Fonte: http://wellingtonrafael.blogspot.com

Quem ajudava era Joilson e Betinho,
Para Fio sozinho não ficar.
Jogávamos em todo lugar, com esta equipe para nos acompanhar
Tinha tudo, nada faltava, era uma organização só,
Cada jogador tinha seu armário e o meião era dado um nó.


Os goleiros eram Edvaldo e Magão que não deixava a bola passar
Lembramos o eterno Lenilson que poucos o viram jogar
Na direita era Leo de Zezim, no meio Serginho
Na zaga Bodão na esquerda Flávinho
Na zaga Erinaldo, Robinho e ainda tinha Celinho,
O ataque era Ari matador treinado por seu Zezinho
Ainda tinha o atacante Jairo sortudo desde o cruzeirinho.

Pós Treino da Escolinha
Fonte: Professor Francisco Belarmino (Prof. Fio)

Zivaldo matador não podemos esquecer
Se tinha uma chance dificilmente ele iria perder.
Tinha o Prefeito que era um grande volante
E ainda tinha Soares que jogava ajudando o centroavante.

Treino da Escolinha aos Sábados pela manhã
Fonte: Professor Francisco Belarmino (Prof. Fio)
Branquinho também jogava junto com Edvaldo de Tacima
Rodrigo também queria, mas uma posição não conseguia
E o menino Rafael na época só raiva fazia.

Depois veio outra geração,
A escolinha cresceu e continuou tirar jovens da tentação,
A droga surgia, mas a escolinha combatia
Comandados pelo Professor Fio, muitos jovens da droga saia.

A escolinha fama fez, até profissional saiu mais de uma vez
Porém Infelizmente a escolinha um dia se desfez.
Mas os jovens que nela jogou ao menos uma vez
Jamais vai esquecer do que ela e o professor Fio fez.


Araruna/ PB, 29 de março de 2020.


José Edvaldo Pereira dos Santos

Licenciado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2013, Especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela (UFPB) em 2015. Atualmente professor Substituto de Inglês Instrumental e Leitura e Produção Textual no CAMPUS VIII da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). 




segunda-feira, 13 de janeiro de 2020


O Beco do Fumo


Era no meio da feira que tudo acontecia
Eram vários becos com aquela gritaria
Ninguém entendia nada do que se ouvia
Tanto homem gritando, fumaça de cigarro e velhos escarrando.

Credito da foto: http://wellingtonrafael.blogspot.com
 De longe se ouvia o barulho da roleta a girar
Muito jogo do bicho acontecia por lá
Era uma verdadeira agonia
Nas mesas dos jogos era onde tinha calmaria
Baralho só jogava quem dinheiro tinha.

Seu Genival o baralho traçava
A banca ele mandava
E tantos outros ali jogavam
Cansaço não tinha, pois de comida tudo tinha
De bebida a farinha
E assim o jogo seguia.


Quando alguém se aproximava, a gritaria começava
Olha o fumo! Olha o fumo! Olha o fumo!
E muitos nem olhava.

Durante a semana, tudo era diferente
O escuro ali reinava e os casais se aproximavam
O Beco do fumo começava outra fama
As bancas da feira virava cama
Quem nunca namorou ali não sabe o que é pegação
Lei era uma só, tinha que resistir a tentação
Mas de lado não podia olhar não.

Credito da foto: http://wellingtonrafael.blogspot.com
Quando alguém descobria o que lá acontecia
Era uma verdadeira agonia
Filha de fulana e fulano no beco do fumo! Não acredito não!
Era uma verdadeira decepção.

 Na cidade se espalhava
Tudo o povo contava, mas era especulação
Pois a lei era uma só, ninguém podia dizer o que acontecia lá não.

O que acontecia no beco do fumo lá ficava
E ai de quem contava
Pois ninguém iria com ele ou ela mais não.

 Existia um calçadão ao lado do beco do fumo
Na feira vendia diversas roupas que vinham de outros rumos
Na semana ficavam as crianças a brincar
Quando os cachorros de Zenobia não vinham atrapalhar
Graciliano tentava nos ajudar, mas os dálmatas não nos deixava brincar.

O tempo passou e tudo mudou...
Hoje tem em seu lugar o famoso shopping popular
Não é mais o mesmo lugar, mas a herança ficou naquele lugar
Pois muita gente ainda vai lá para namorar e brincar.



 

Araruna/PB, 09 de Janeiro de 2020


Edvaldo dos Santos

domingo, 22 de dezembro de 2019

Araruna já viveu estiagem

fonte: http://wellingtonrafael.blogspot.com/

Eram tempos difíceis de viver
Nada tinha para colher
Foi um ano difícil à lagoa ate secou coisa difícil de se ver
Ajuda quase não tinha nem de feijão nem de farinha
A emergência ate vinha era a única coisa que tinha.

A seca atingiu até a serra, pois nada se colhia daquela terra
Água salgada era a única que se tinha
O feijão que da emergência vinha era duro como caroço de pinha
Cozinhar era agonia com feijão duro e água doce que não tinha.

O ano era 1993, e as necessidades eram gigantescas
Araruna só teria vivido esta estiagem na década de 80
A seca castigava nada tinha como plantar, a terra do feijão estava a secar
O sufoco era grande que não podia imaginar
Roupa não tinha como lavar, pois na lagoa da serra água não tinha mais lá

Ficou a cacimba com pouca água por lá
Era todo dia uma multidão a correr para água pegar
Só tinha a cacimba para nos ajudar
Às quatro horas da manhã a rua lotada estará, pois todos queriam água pegar
Às vezes até secava e uma multidão ficava a esperar

Foram dias difíceis, mas conseguimos superar, a chuva veio pouca, mas no ano 2000 só faltou nevar
Araruna voltou a ser frio e muita chuva veio para nos ajudar.

Do feijão ao maracujá começamos a plantar
Voltou à fartura e nada veio a faltar

Até água doce na torneira veio acalhar, pois o governador na época Maranhão colocou para nos ajudar.

Araruna/PB, 22 de Dezembro de 2019
Edvaldo dos Santos

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Lembranças do Cuscuz



Era em volta de um espaço de terra
Onde se travava uma guerra
Duas traves brancas em cada canto
Ao redor vários outros campos
O campo se chamava do cuscuz
Pois jogávamos até a última luz
Sem ninguém se cansar

Tinha um tal de Zezito que jogava meio campo
E um tal de Nego que jogava de zagueiro
E o pior era Baiano que jogava em todo canto
Não vamos esquecer do saudoso Viola goleiro que sabia pegar bola
Ainda fala de Pompeia este não vi jogar
Mas dizem que era o melhor, pois sabia agarrar

Veio ainda à geração de Gelsino, Goia, Girlan e Jasi
Que não tinham tempo ruim
Era futsal ou futebol o adversário podia vir
Pois o campeão era sempre o time do “cruzerin”

Não podemos esquecer dos irmão Joilson e Betinho
Dois atacantes de nomes que surgiram Dalí
Do campo do cuscuz, do Borges e do “curzerin”

Time do Palmeiras de Araruna/PB 1999
Fonte: http://wellingtonrafael.blogspot.com
No campo do cuscuz surgiu o palmeiras de Ginú
O time do pirão, mas quem era do cruzeiro não comia não
O mesmo acontecia no cruzeiro de Zezim
O mocotó era o melhor de tudim
Todos podiam comer do famoso mocotó de zezim
Mas o palmeira não queria não, achava melhor o pirão e cana com limão



Time do Cruzeiro de Araruna/PB 1990
Fonte: http://wellingtonrafael.blogspot.com


No campo do cuscuz tudo era festa
As crianças adoravam andar de bicleta
Pelada era jogo e ninguém queria perder e não faltava o que comer
Era pastel, dindin, cocada, garrafinha e até cana tinha
Pois o jogador que trazia, na bolsa sempre tinha a famosa burrinha

Depois tinha a discussão de quem  jogou melhor ou pior
Começava no campo e  alí seguia até a esquina de Dona Maria
No bar de Tico de Belém a zoada se ouvia
Pois todos queriam do jogo falar também

A noite já não era a mesma coisa
A escuridão reinava e muitos segredos do cuscuz se via
Logo ao chegar à luz do dia
Até crianças foram vitimas da escuridão
O que acontecia não sabiam não
O menino Luan ali se foi numa vala seu corpo foi encontrado e o destino ignorado

Grandes circos por lá se tinha
A cidade toda ia, não faltava diversão
Era com bola ou pião as crianças não paravam não
As pipas ali soltavam até os chatos com cerol chegavam
Mas a diversão continuava

Ou saudades do cuscuz e do que muito houve por lá
Se pegava até preá
Se usava bola capotão quebrava até o dedão
Mas não parava de jogar.
  

Araruna/PB, 05 de Agosto de 2019
Edvaldo dos Santos

terça-feira, 18 de junho de 2019

Araruna das Memórias


Araruna das Memórias


As ruas e avenidas da minha amada Araruna
o feijão ficava a secar espalhados pelas ruas
todos se reuniam para ajudar, na labuta
bater o feijão era símbolo de união
pois era catado até o ultimo grão
e as palhas não sobrava também não.

As crianças saltavam e pulavam era muita energia.
Nas palhas todos queriam ter um momento de alegria, 
assim ficavam nas palhas pulando dando 
salto e gritando era um momento de nostalgia.


As ruas fechadas poucos carros se viam
eram mais bicicletas que por lá seguiam
mas sempre tinha um carro que vinha
todos corriam e um caminho logo se fazia
o feijão de um lado para outro logo se ia
e o carro que vinha sua viagem fazia.


Confusão não se via era tudo paz e alegria
a cidade dormia não precisava nem de Vigia
nem portas batiam, pois necessidade não havia
ladrão nem existia, nem mesmo de galinha.


 As castanholas muitas tinham, quando chovia todas caiam
tudo era bom e farto até besouros tinham de fato
era tudo bom e barato na mercearia de seu Basto.


Kermi de tudo tinha, era solda e balinha tinha 
até sardinha e todos se serviam
seu Emídio nem se falava, pois Dona Nevinha 
quem mandava enquanto ele sua viagem seguia

Dona Nevinha ainda vendia mortandela e sardinha 
da “pior sem ela”, era quem melhor tinha.


Sem falar em seu Avaristo homem bom e conhecido 
que sua altura era merecido
grande homem e distinto por tudo que fazia
sempre que dava ou fazia nuca dizia que você não merecia.

Era muita fartura nessa terra querida, tudo que queria se tinha, 
pois até jaca nós trazia do sítio de seu Lulinha.

Todo lugar tinha uma bola para jogar na rua ou na pracinha, 
ninguém ficava sem jogar, pois todos podiam 
brincar porque briga não tinha.

A noite só se ouvia as mães chamar 
“chegue menino isso não é mais hora de brincar”

Era polícia e ladrão, pega ajuda, 31 alerta, 
cuscuz só brincadeira decente 
quem fosse macho que se aguente, 
na famosa peinha quente.


                            Araruna/PB, 17 de Julho de 2019

                                                 Edvaldo dos Santos

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

PERCEPÇÃO DA VARIEDADE LINGUÍSTICA NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL JOÃO ALVES TORRES




PERCEPÇÃO Da variedade Linguística
na Escola Municipal de Ensino Fundamental
João Alves Torres








Resumo


Este artigo tem como propósito identificar a percepção sobre o preconceito linguístico existente na escola Municipal de Ensino Fundamental João Alves Torres, no município de Araruna-PB, como também observar e destacar os principais aspectos motivadores deste preconceito, tendo como objeto de análise a percepção dos alunos da turma do 6º F do turno tarde. Por ser uma pesquisa de campo, foram utilizados questionários, os quais permitiram identificar, principalmente, a percepção dos entrevistados quanto à variação linguística existente na escola, sobretudo entre alunos da zona urbana e da zona rural. Com base nas ideias de Bagno (1999), foram observados diversos aspectos quanto ao uso da língua nas interações orais, além de identificar as diferenças linguísticas entre os alunos, outros autores, como Tarallo (1986), também contribuíram com suas teorias quanto às diversas formas do uso da língua e as diferenças entre língua padrão e não padrão. Tendo os autores já citados e outros Possenti (1997), Bortoni-Ricardo (2005), Labov (2008), Câmara Jr (1981), Santos (2004), Lyons (1979), Soares (1983), Mollica (2004), Neves & Damiani (2006) como base da investigação, foi possível entender os principais motivos que geram o preconceito linguístico na escola João Alves Torres: as diferenças socioeconômicas e as diferenças geográficas. Concluiu-se, portanto, que, embora sejam geograficamente próximas, as regiões urbanas e rurais em que os alunos estão inseridos detém muitas diferenças socioeconômicas, as quais acabam refletindo nas enormes diferenças linguísticas, geradoras do preconceito.

Palavras-chave: percepção, preconceito, variação linguística.




Preconceito linguístico


            Além da extensão geográfica, o Brasil possui grandes desigualdades sociais. Tais fatores provocam mudanças na língua, as quais têm gerado preconceitos quanto à forma de falar de cada indivíduo.
É sabido por todos brasileiros que nosso idioma é o português, mas também se tem um grande questionamento quanto à originalidade deste argumento, pois na realidade, não se sabe ao certo, se o correto é o português trazido de Portugal ou o que se utiliza atualmente no Brasil.
Segundo Bagno (2007), o português falado no Brasil apresenta um alto grau de diversidade, que não leva só em consideração os aspectos geográficos, mas também a injustiça social que faz do Brasil a segunda pior distribuição de renda do mundo. Tendo em vista estas diferenças, o autor ainda ressalta que o Brasil fica dividido em duas partes quanto ao uso da língua: uma dos falantes da língua padrão e outra dos falantes da língua não padrão. Surge, assim, o preconceito linguístico, ou seja, por existirem termos utilizados pelos falantes da língua não padrão que não são aceitos pelos falantes da língua padrão e vice e versa, começa a haver uma discriminação pelo diferente.
Tendo em vista o uso padronizado e voltado para os falantes que tem uma aquisição financeira melhor, além de outros aspectos relevantes, a língua padrão utiliza termos muitas vezes incompreensíveis pelos falantes da língua não padrão. Como afirma Bagno (1999, p. 20):

O que muitos estudos empreendidos por diversos pesquisadores têm mostrado é que os falantes das variedades linguísticas desprestigiadas têm sérias dificuldades em compreender as mensagens enviadas para eles pelo poder público, que se serve exclusivamente da língua padrão. 

São comuns os casos em que um falante, ao utilizar sua linguagem do dia a dia, é taxado como não conhecedor da língua, tornando-se vítima de diversos tipos de preconceito. Segundo Bagno (2002), o falante da língua considerada não padrão não têm sua linguagem reconhecida como válida, a mesma é desprestigiada e ridicularizada, além de muitas vezes ser alvo de chacota pelos falantes da língua padrão.
Tal chacota pode ser classificada como bullying. Segundo Fante (2005, p. 29), esta prática acontece quando, através de brincadeiras, disfarça-se o propósito de maltratar e intimidar. Nesse sentido, por fazerem uso de determinadas formas linguísticas em suas relações interpessoais, alguns alunos acabam sofrendo não apenas preconceito, mas bullying.
Os preconceitos linguísticos, dessa forma, podem ser identificados em muitos lugares e, até mesmo, nas escolas. A falta de adequação da escola quanto às mudanças que a língua sofre com o decorrer do tempo e à diversidade cultural do povo brasileiro talvez seja um dos fatores primordiais para a existência desses preconceitos, mas, sobretudo, a não conscientização da comunidade escolar a respeito do caráter variável da língua.
É notório que os professores ainda não estão capacitados para trabalharem a influência da sociedade e da cultura na transformação da língua portuguesa, utilizando-se da gramática normativa para impor uma forma de utilização da língua oral que não leva em consideração o conhecimento prévio que o aluno tem desenvolvido em seu convívio social. Fazendo isso, os educadores não se dão conta que estão desconsiderando a linguagem como forma de aprendizagem. Segundo Vygotsky (1982 apud NEVES & DAMIANI, p.6), “o meio social é determinante no desenvolvimento humano”, ou seja, o ambiente em que o indivíduo está inserido influencia direta e/ou indiretamente no desenvolvimento e na aprendizagem da linguagem, a qual ocorre por “imitação”, isto é, consiste em uma reprodução do que se é vivenciado.
Sendo assim, Bagno (2002) afirma que o aluno, vindo de uma realidade linguística totalmente coloquial, influenciada por diversos dialetos, é tratado com preconceitos e muitas vezes chacotas, pois a escola impõe ao aluno uma variedade padrão da língua como única, dificultando tanto as relações interpessoais dentro da escola, como o entendimento e a assimilação dos conteúdos. Nas palavras do autor:


Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc. (Bagno, 1999, p. 15)

É muito comum um professor fazer a correção de uma palavra, pronunciada ou escrita por um aluno, de maneira ignorante e grosseira, sem levar em consideração os conhecimentos pré-estabelecidos pela linguagem a que o aluno foi submetido e, consequentemente, influenciado. Assim, esse ato demonstra que os profissionais de educação ainda não reconhecem as variedades linguísticas existentes em um país multicultural como o nosso, fazendo nascer, muitas vezes, um preconceito linguístico desnecessário.

 Diversidade linguística na escola


 A escola utiliza uma linguagem tradicionalmente conhecida como língua padrão ou norma culta. Nessa perspectiva, a escola adota em sua prática uma língua que não varia, ou seja, que é considerada homogênea. Acontece que o indivíduo pode fazer uso de diversas regras em suas interações, comprovando que a língua não é homogênea, mas heterogênea.
As diferenças linguísticas, porém, não podem ser ignoradas. Os professores e, por meio deles, os alunos têm que estar bem conscientes de que existem várias maneiras de dizer a mesma coisa. E mais, que essas formas alternativas servem a propósitos comunicativos distintos e são recebidas de maneira diferenciada pela sociedade. O mais importante é o aluno saber quando e como usar a língua, e não ter uma regra estabelecida pela escola que venha desconsiderar tudo que foi assimilado por ele em sua rede social.
 Algumas formas conferem prestígio ao falante, aumentando-lhe a credibilidade e o poder de persuasão; outras contribuem para formar uma imagem negativa, diminuindo-lhe as oportunidades. Há que se ter em conta ainda que as reações dependem das circunstâncias que cercam a interação. (Bortoni-Ricardo, 2005, p. 15)
É preciso deixar clara a importância dos diversos usos da língua, tanto a língua padrão como a língua não padrão, pois não se pode deixar também de levar em consideração a importância da língua padrão no convívio em sociedade, tal, segundo Possenti (1997), ato também tem que ser elevado como preconceituoso.


[...] A tese de que não se deve ensinar ou exigir o domínio do dialeto padrão dos alunos que conhecem e usam dialetos não padrões baseia-se em parte no preconceito segundo o qual seria difícil aprender o padrão. Isto é falso, tanto do ponto de vista da capacidade dos falantes quanto em grau de complexidade de um dialeto padrão. [...]. (Possenti, 1997, p. 17)


Dentro deste pressuposto, o aluno, ao se deparar com uma correção quanto a forma de falar em suas interações interpessoais, passa por diversos conflitos, desde o preconceito a diversas decisões desastrosas como a desistência. Todas estas situações impostas ocorrem devido à falta de preparação da escola, pois esta teria que receber o aluno valorizando e respeitando sua variedade linguística.

Causas do preconceito linguístico

O Brasil, apesar de bem dividido em suas regiões, possui uma variedade linguística muito ampla, com isso, existe um preconceito quanto aos diferentes dialetos utilizados nas interações entre as pessoas de uma mesma região ou de regiões diferentes. Isso também ocorre entre as cidades ou dentro de uma mesma cidade (PossentI, 1997).
Quanto à divisão de classes sociais, são nelas também que os indivíduos, ao interagirem em um contato mais próximo, também expõem suas diferenças linguísticas, influenciadas culturalmente e financeiramente. Essas também refletem na escola, onde os alunos se dividem em grupos estabelecidos por diversos padrões, com um grande destaque para os alunos com uma maior aquisição financeira em que os mesmos são considerados como um grupo conhecedor da língua padrão.
A imposição das normas consideradas cultas ou língua padrão só vêm aumentando entre a sociedade brasileira, e nada é feito em prol da diversidade linguística em seus usos e suas formas. O que se vê são as redes de televisão, jornais, revistas e os livros didáticos incentivarem, cada vez mais, o uso da língua considerada padrão, enquanto isto, as variedades linguísticas, existente em determinadas comunidades que possuem seus dialetos próprios, são tachadas como incorretas e incoerentes.  Segundo Bagno (1999) se um falante do Sudeste ouve um falante da zona rural nordestina pronunciar a palavra “oito” como [oytsu] ele acha isso “engraçado”, “ridículo” ou “errado”. Dentro dos estudos linguísticos, este fenômeno é o mesmo, a palatalização, refere-se ao som que se pronuncia devida aproximação da língua ao céu da boca, a única diferença entre estes falantes é que um falante usaria em sua pronuncia o “y” antes do “t” e o outro usaria depois (PRIBERAM, 2008). Ainda segundo aquele autor, o que está em jogo não é a língua, mas quem fala essa língua e a região geográfica em que este falante vive. (BAGNO, 1999)
Bagno (1999) nomeia os falantes da língua portuguesa não padrão como “os sem-língua”, pois os mesmos possuem uma gramática particular que não é reconhecida como válida, além de ser alvo de chacota por falantes do português padrão. De acordo a lógica usada nas divisões do português padrão e não padrão existiria brasileiro que não sabe falar e muito menos interagir através da língua portuguesa, ou seja, temos vários brasileiros sem língua no país.

Preconceito linguístico na escola

A escola precisa capacitar seus alunos, para que eles saibam fazer uso da língua materna em diversas situações na vida e em sociedade, assim o aluno conheceria a diversidade linguística existente em sua língua, além de saber adaptá-la a situação em que o indivíduo esteja exposto em um ato de comunicação.
Para que se desenvolva a competência linguística do aluno, principalmente no ensino fundamental, se faz necessário levar em consideração diversos fatores relacionados à sociedade em    que o mesmo está inserido. Como regula os PCNs:


É fundamental que a escola assuma a valorização da cultura de seu próprio grupo e, ao mesmo tempo, busque ultrapassar seus limites, propiciando às crianças e aos jovens pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade.
É igualmente importante que ela favoreça a produção e a utilização das múltiplas linguagens, das expressões e dos conhecimentos históricos [...]. (BRASIL, 1998, p. 44)


Mesmo estando orientada pelo PCN do ensino fundamental, as escolas tendem a usar uma metodologia de ensino da língua padrão, que desconsidera a diversidade linguística e sua importância nas relações interpessoais. Não que a língua padrão não seja importante para o aluno, mas que a língua não padrão também seja levada em consideração, principalmente na interação oral. Portanto, devido a esta padronização da língua imposta pela escola ao aluno, é gerado um preconceito desnecessário.
Muito já se estudou acerca da homogeneidade da língua portuguesa no Brasil, porém esses estudos só tem prejudicado a educação brasileiro quanto ao ensino da língua materna, como afirma Bagno, (1999):


Existe também toda uma longa tradição de estudos filológicos e gramaticais que se baseou, durante muito tempo, nesse (pre)conceito irreal da “unidade linguística do Brasil”. Esse mito é muito prejudicial à educação, porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc. (Bagno, 1999, p. 15).


Influenciados por uma escola totalmente preconceituosa que se acha capaz de definir e padronizar o uso da língua, os alunos vão sendo divididos em grupos linguísticos, e essa divisão se dá da seguinte forma: os alunos que geralmente fazem parte de um grupo que tem uma melhor aquisição financeira ou estão geograficamente próximos de grandes centros são classificados como alunos falantes do português padrão, já os que fazem parte de um grupo de menor aquisição financeira e estão distante de grandes centros são os alunos falantes do português não padrão.
Devido à diversidade linguística no Brasil é necessário que as instituições culturais e educacionais se adaptem a essas diversidades da língua portuguesa brasileira.


É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto a população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão. O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em sala de aula e, em muitas situações, uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega a escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no quotidiano e uma variedade de português não-padrão. (Bagno 1999, p.18).



No ensino da língua materna em suas interações orais, faz-se necessário levar em consideração todos os aspectos a que o falante esteja exposto, além de vários outros fatores relevantes, sendo assim, é preciso adaptar as escolas para que ensinem verdadeiramente a língua e suas diferentes possibilidades de uso no quotidiano.

PRocedimentos Metodológicos


Os objetivos deste trabalho foram atendidos através da utilização de uma pesquisa de caráter exploratório, a qual, segundo Gil (2002. p.41), é um “[...] tipo de pesquisa [que] facilita o entendimentos de diversas possibilidades dos aspectos estudados”. Assim, além de constatar a variedade linguística existente na escola João Alves Torres, ainda proporcionou constatar o preconceito linguístico sofrido pelos discentes e os aspectos relevantes a este tipo de preconceito.
O delineamento da pesquisa classificou-se como estudo de campo e se realizou através da análise quantitativa, escolhida para coleta de dados durante as observações dos diversos usos da língua.
Para obtenção dos dados, foram realizadas aplicação de um questionário, com alunos, referentes ao uso correto da língua em suas interações orais no dia a dia. O questionário era composto de perguntas objetivas e subjetivas, que versavam sobre as diversas formas linguísticas utilizadas pelos os alunos na interação oral. Os mesmos também continham perguntas subjetivas e objetivas referentes aos preconceitos linguísticos sofridos pelos alunos na escola, devido a forma de interagir oralmente com seus colegas e professores.   
A pesquisa foi realizada na Escola João Alves Torres (JAT), localizada na Avenida Coronel Pedro Targino, S/N centro, Araruna-PB, a qual possui cerca de 1046 alunos, segundo censo escolar de 2012, divididos em três turnos. O corpo pessoal é composto por 65 professores, nomeados por concurso público, e 38 funcionários.
A escola é referência, no município, entre as escolas públicas, pois, devido ao seu tamanho e estrutura, recebe alunos de diversas comunidades da zona rural e todos os alunos da zona urbana, tendo em vista ser a única escola pública municipal na área urbana, com ensino fundamental II do 6° ano ao 9° ano.
Devido à existência de alunos da zona urbana e da zona rural, a escola torna-se um campo muito rico para tratar de questões sociolinguísticas, pois, nos atos de comunicação entre os falantes de zonas diferentes, podem ser observados diversos fatores que implicam nas diferenças socioeconômicas e consequentemente linguísticas dos interlocutores.
A amostra da pesquisa foi composta por 18 (dezoito) participantes, todos eram alunos do 6° ano, do ensino fundamental II, divididos em: oito do sexo masculino e doze do sexo feminino, com idades entre 09 e 13 anos, todos do turno da tarde.
De posse dos dados das entrevistas e dos questionários, foi feita uma análise quantitativa e qualitativa dos dados, cujos resultados serão apresentados a seguir.

APRESENTAÇÃO E Análise dos dados


A escola de Ensino Fundamental João Alves Torres, possui um grande número de alunos da zona rural e da zona urbana, alunos de realidades sociais totalmente diferentes e, consequentemente, detentores de variedades linguísticas distintas. Estes aspectos geram divisão entre os próprios alunos e, devido aos diferentes usos da língua, surgem preconceitos entre os alunos, com uma parcela de contribuição dos professores que insistem em padronizar a forma dos mesmos falarem.
A escola João Alves Torres traz várias características que influenciam nos preconceitos linguísticos, desde os aspectos socioeconômicos, aos aspectos geográficos. Assim, nesta escola, foram observadas diversas variações linguísticas como:
a)      Variação diatópica (diferença entre as regiões): a linguagem dos alunos provenientes da zona urbana é diferente dos advindos da zona rural, por exemplo, os alunos da zona urbana utilizam diversas gírias como: fala boy, eeei boyzinha, meu irmãaaooo, ta ligado?? Já os alunos da zona rural falam sem uso de gírias, porém utilizam de uma linguagem totalmente informal, como: eii minino, essa minina sabe visse, ei bixim, tu sabe visse, vixeee Maria, ele já tinha abrido.
b)      Variações diastráticas (referente aos grupos sociais): é comum ver na escola, durante os intervalos, alunos divididos por grupos, divisão esta devida a diversos aspectos e um deles é o financeiro. Os alunos dizem que preferem interagir com aqueles que pertencem à mesma classe social ou que, pelo menos, sejam de classes próximas, pois acreditam que o diálogo não flui com indivíduos de classes diferentes. Para os alunos, a classe com maior aquisição financeira vive uma realidade completamente diferente das classes consideradas inferiores, e assim, têm formas diferenciadas quanto ao uso linguístico em sociedade.  
c)      Variação diafásica (comunicação na forma geral): dependendo do conhecimento linguístico pré-estabelecidos cognitivamente em cada aluno, haverá diferenças. Assim, os alunos que têm mais contatos com o meio virtual através da internet, ou que já viajaram por algum tempo para outras regiões, utilizam linguagens diferenciadas e, muitas vezes, mais ricas em seus vocábulos, pois tiveram a oportunidade de conviver em ambientes diferentes, assim, ampliando seus conhecimentos linguísticos.
Analisando os resultados dos questionários aplicados com os alunos do 6° ano F da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Alves Torres, turno tarde, observou-se que existe um preconceito linguístico entre os próprios alunos, isto devido suas diferenças sociais, culturais e geográficas, e que seus educadores, principalmente de língua portuguesa, priorizam a língua padrão como a única forma correta de interagir nas relações interpessoais, mesmo as de cunho oral.
O questionário foi composto por dez perguntas, cada pergunta tinha cinco alternativas. O questionário foi aplicado com 18 alunos, sendo 08 (44,5%) vindos da zona urbana e 10 (55,5%) da zona rural como pode ser observado no gráfico 1.

Gráfico 1 – Alunos da zona urbana e rural que estudam na Escola João Alves Torres

 Quando os alunos foram questionados sobre que avaliação faz de si próprio em relação ao conhecimento da língua portuguesa na interação oral, 27,7% responderam que se considera bom, 22,3% falaram que são péssimos, 33,3% responderam que se considera muito ruim, apenas 5,5% disseram que são excelente e 11,2% falaram que são muito bom, conforme demonstrado no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Avaliação do aluno em relação ao conhecimento da língua portuguesa

O Gráfico 3 mostra que, na pergunta que questionava sobre como eles entendem como os colegas falam, 22,2% disseram costumam compreender facilmente o que colega fala, outros 22,3% responderam que conseguem entender apenas algumas coisas, outros 22,3% falaram que tem dificuldades em entender o colega. Enquanto 16,7% disseram que entendem tudo, pois sabe falar muito bem e outros 16,7% falaram que só entendem aqueles que moram na mesma rua ou sítio.

Gráfico 3 - Entendimento sobre o que os alunos falam entre eles.

Quando foram questionados se os professores fazem correções quanto à forma de falar, os resultados do Gráfico 4 mostram que 16,7% disseram que fazem sempre, 44,4% afirmaram que a correção acontece às vezes, 27,7% responderam nunca são corrigidos, 5,5% disseram que a correção só acontece quando estão conversando com os colegas no intervalo e outros 5,5% falaram que quase nunca acontece.

Gráfico 4 - Correção dos professores quanto à forma dos alunos falarem
Os alunos também foram questionados para saber como se sentem quando alguém faz uma correção de algo que falaram. O Gráfico 5 aponta que 27,7% afirmaram que se sentem péssimo quando isso acontece, outros 27,7% disseram que não se importam para estas coisas, apenas 11,2% falaram que gostam quando alguém faz isto, 16,7% salientaram que ficam furioso e outros 16,7% afirmaram que riem de si mesmo quando alguém faz correção sobre algo que falaram.

Gráfico 5 - Reação dos alunos quando alguém faz uma correção sobre algo que eles falam

O Gráfico 6 apresenta as respostas para a pergunta que buscava saber sobre que frequência o aluno costumava falar alguma palavra que alguém não conhece ou não entende, 27,7% responderam que sempre tem alguém que não entende o que fala, 16,7% falaram que isso nunca acontece, 38,8% disseram que só acontece de vez em quando, apenas 5,5% afirmaram que acontece apenas quando fala com pessoas de outras regiões do país e 11,2% destacaram que isso ocorre quando falam com pessoas idosas.

Gráfico 6 - Frequência sobre uso de palavras que os alunos fazem e outros não entendem

O Gráfico 7 mostra que, quando os docentes foram questionados se têm dificuldades em falar com alguém que mora na zona urbana ou na zona rural, 27,8% afirmaram que têm às vezes, 5,5% responderam que sempre têm dificuldade, outros 5,5% falaram que atualmente não, mas já teve, 38,9% disseram que nunca tiveram e 22,3% responderam que não tinham, mas agora têm.

Gráfico 7 - Dificuldade de falar com pessoas que moram na zona urbana ou zona rural

Os alunos também foram questionados para saber se já sofreram algum tipo de bullying por ter falado algo consideram errado por alguém. O Gráfico 8 apresenta os resultados: 27,7% responderam que sempre sofre discriminação pelo que fala, 22,2% disse que alguns riem por causo daquilo que falam, enquanto 27,7% falaram que isso nunca acontece, apenas 11,2% enfatizaram que as vezes sofre por não saber falar as coisas, outros 11,2% afirmara que domina muito bem a língua padrão.

Gráfico 8 – Bullying por falar algo considerado errado

Na pergunta para saber se os alunos conhece alguém que não fala por medo de errar, o Gráfico 9 demonstra que: 33,3% responderam que conhece, se referindo a si próprio, 22,2% falaram que não conhece, 16,6% afirmaram que conhecem muitas pessoas, outros 16,6% se referiram ao amigo e apenas 11,3% destacaram que conhecem poucas pessoas que não falam por este motivo.

Gráfico 9 – Conhece alguém que não fala por medo de errar

Nos questionários respondidos pelos os alunos, foi observado outro aspecto importante que gera o preconceito linguístico: a questão das formas diferenciadas que os alunos têm de falar as mesmas coisas como, por exemplo, alguns alunos chamam a esfera de vidro de “bola de gude”, outros chamam de “biloca” e outros de “bola de vidro”. Tem alunos que chamam o biscoito recheado de “bolacha recheada”. É importante ainda ressaltar a questão das pronúncias diferentes como: “poirta” para porta, “biciqueta” para bicicleta, além do uso excessivo do pronome “tu” pelos falantes da zona rural e do uso excessivo de gírias pelos falantes da zona urbana.
Os resultados também permitiram constatar certo despreparo do corpo docente em seguir o que dizem os PCNs quanto ao ensino da língua materna:

No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa, dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem. (PCN, 1998, p. 31).

Assim, percebemos que, conforme a previsão dos PCNs de que a escola deve aceitar a realidade linguística de seus usuários, os alunos do 6º ano “F” da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Alves Torres consideram que sua forma de falar é sim aceita pelos professores. A imposição da forma padrão, portanto, caso ocorra, não é percebida pelos discentes.
Considerando que a língua é reflexo da sociedade que a utiliza, a Sociolinguística defende que não devem haver divisões, tachando o que é certo ou errado, mas uma preconização quanto à diversidade linguística e seus fatores relevantes.  Desse modo, os professores devem destacar a importância do uso da língua padrão, ensinando como e quando usá-la, e não a defender como única forma correta de comunicar-se, menosprezando as demais formas linguísticas, uma vez que isso só leva à propagação do preconceito entre os alunos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A variedade linguística é uma realidade que está dentro da escola brasileira, porém a mesma ainda não está preparada para relacionar as diferenças linguísticas e utilizá-las como facilitadora da aprendizagem e da interação interpessoal entre alunos, professores e funcionários.
Neste trabalho foram abordados as variedades da língua portuguesa e o preconceito linguístico, gerados devidos estas diferenças linguísticas, destacando os motivos pelos quais este ocorre e as formas que o mesmo se apresenta em uma turma da escola Municipal João Alves Torres.
Através de uma pesquisa de campo, que utilizou como método de investigação a observação e a aplicação de questionários, constatou-se que os alunos da zona rural utilizam termos diferentes dos alunos da zona urbana, classificando-se com estes aspectos a ocorrência das variações linguísticas diatópicas. Foi constatado também que entre esses alunos ocorre a variação linguística diastrática, devido as diferenças socioeconômicas.
Diante desses resultados, verificamos que, na turma investigada, embora os professores aceitem as particularidades linguísticas dos alunos, o preconceito linguístico está presente entre os pares. Isto é, entre alunos, principalmente da zona urbana e alunos da zona rural, é possível identificar o preconceito linguístico, gerado, sobretudo, pelas diferenças geográficas e socioeconômicas.
Embora não tenhamos exaurido o assunto, reconhecemos que este trabalho foi muito importante para os graduandos em Letras Língua Portuguesa, tendo em vista que ampliou os conhecimentos quanto ao preconceito linguístico e às variações da língua portuguesa. Também permitiu que esses futuros professores conhecessem melhor os motivos e aspectos caracterizadores do preconceito linguístico e ainda ajudou a desenvolver as competências de investigação, de seleção, de organização e de comunicação da informação quanto o preconceito linguístico existente na escola João Alves Torres.

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